Então é Natal, e o que você fez? – Jornal Correio

Na última semana, andei tentando saber um pouco mais sobre essa canção, espécie de jingle dessa época no Brasil e, para alguns, tão incômodo quanto ouvir o carro do ovo tocando a vinheta do Jornal Nacional. Mas o que Simone desejava ao gravar um álbum inteiro de músicas natalinas, batizado como 25 de Dezembro, em 1995?

Mariah Carey havia feito um projeto semelhante no ano anterior, Merry Christmas. Em setembro de 1957, Frank Sinatra lançou Jolly Christmas, também só com canções natalinas, e Elvis Presley fez o mesmo apenas um mês depois de Sinatra. Até Justin Bieber embarcou nessa, em 2011, com o álbum Under the Mistletoe.

Mas, talvez, a cantora brasileira tentasse apenas se reconciliar com a data do próprio aniversário. Exatamente hoje, ela comemora 73 anos. Deve ser bem chato nascer nesse dia em um país católico, quando o menino Jesus rouba todas as atenções e se torna impensável organizar uma Farofa da GKay longe das reuniões de família.

Eu, que nasci no primeiro mês do ano, tenho cá as minhas lembranças de aniversários quase vazios. Todo mundo de férias no litoral. Tudo bem que nunca pensei em escrever um livro chamado 10 de Janeiro, só com poemas sobre o Verão. Também nunca me imaginei pilotando um avião camicase com desafetos como passageiros.

O certo é que o álbum 25 de Dezembro foi um grande sucesso, puxado por Então é Natal. Vendeu mais de um milhão de cópias, na contramão do ranço pela música, que levou uma legião de Grinchs, aquele personagem verde do livro do Dr. Seuss que odeia a festa natalina, a criar uma campanha contra a execução da música em 2013.

Por um Natal sem Simone, dizia um dos slogans, com direito a foto da cantora com a boca lacrada por fitas adesivas. Penso que o mais irritante na letra da canção, uma versão de Happy Xmas (War is Over), de John Lennon e Yoko Ono, escrita por Cláudio Rabello, talvez seja essa pergunta inicial: “e o que você fez?”.

Ah, gente, tendo em conta que a lista de coisas que juramos fazer a cada final de ano é enorme e quase impossível de cumprir, como responder? Tem como ajustar uma vida inteira em doze meses? Lembro de outra música, essa gravada pelo Biquini Cavadão. Nada a ver com Natal. Tudo a ver com a noção do tempo no amor.

Quanto tempo será que demora um mês? Pergunta a canção. E me vem na cabeça um poema de Alberto da Cunha Melo chamado Aeroporto. Diz assim: “Tempo gigantesco é um dia/para quem perdeu a viagem/o endereço para onde iria/ seu bilhete/sua bagagem”. Sigamos, pois, sem listas e sem cobranças, rumo a 2023.

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