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Depois de cinco furtos em oito dias, Igreja da Ajuda contrata segurança privada – Jornal Correio

Local reconhecido por receber fiéis que buscam acolhimento para questões espirituais e emocionais, quem agora grita por socorro é a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, localizada no Centro Histórico. O templo religioso foi invadido e saqueado cinco vezes em um intervalo de oito dias. Os criminosos aproveitaram a falta de policiamento e a vulnerabilidade do espaço para furtar durante as madrugadas. O último arrombamento aconteceu às 5h10 de quinta-feira (18), quando um homem levou uma televisão. A irmandade teme que a igreja seja invadida novamente e cobra medidas de segurança. 

Depois da perícia feita pela Polícia Civil, os membros da Irmandade do Senhor dos Passos buscavam formas de reforçar a segurança, com medo de outra invasão. Bancos de madeira foram colocados atrás das portas principais, imagens religiosas valiosas foram guardadas e uma grade foi improvisada para dificultar a entrada de criminosos. A sensação, ao entrar no espaço, é que a igreja se prepara para uma nova invasão holandesa, como a que bombardeou Salvador, em 1624.

Dessa vez, o assaltante arrancou o gradil e forçou a porta até conseguir uma fresta para invadir

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

“Estamos sempre à mêrce de que alguma coisa aconteça aqui por causa da insegurança. A gente se sente incapaz e impotente, temos a sensação de que as pessoas não têm mais fé”, lamenta Eunice Luz, que faz parte da irmandade há um ano e meio. A preocupação não é à toa. As gravações das câmeras de segurança mostram que o último assaltante passou cerca de 30 minutos no local observando e procurando bens de valor.

Depois de quebrar uma grade e forçar a porta de entrada, ele revirou caixas e cinco gazofilácios (espécie de caixa onde são guardadas as doações), mas não encontrou dinheiro. Os fiéis acreditam que como o homem estava sozinho e já amanhecia, não conseguiu levar mais objetos além da televisão de 32 polegadas. 

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Erguida em 1549 durante a construção de Salvador, a igreja já contabiliza, além da televisão, o prejuízo do furto de 16 objetos (entre vasos, âmbulas e castiçais), uma quantia de R$ 150 em espécie e 30 camisetas. A maior violação, no entanto, foi o roubo de hóstias consagradas, na madrugada de segunda-feira. Na semana passada, um cadeado e leões dourados que ficavam em uma das portas de entrada, já haviam sido saqueados na quarta (10) e quinta-feira (11). 

A igreja, que foi a primeira catedral do Brasil, contratou ontem uma empresa para fazer vigilância eletrônica. Novas câmeras e sensores de movimento e incêndio serão instalados hoje. 

“Uma empresa de vigilância eletrônica foi contratada e estamos providenciando a vigilância física. Estamos tentando uma viatura com a polícia para que fique nas proximidades”, explicou o cônego Jair Argôlo, delegado episcopal para as irmandades e ordens terceiras, que esteve na igreja representando o bispo Dorival Souza Barreto. 

Os gazofilácios quebrados pelo invasor estavam vazios

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

A Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) e a Polícia Militar foram questionadas sobre as ações para preservar a segurança da igreja e o reforço do policiamento durante a madrugada. No entanto, não responderam os questionamentos da reportagem. A Polícia Civil não informou sobre os desdobramentos das investigações e disse apenas que elas são de responsabilidade da 1º Delegacia Territorial/Barris. 

Enquanto isso, a população que transita pelo Centro Histórico sofre com a insegurança que atinge toda a localidade e não só o templo religioso. Augusta Lima, por exemplo, trabalha nas proximidades da Igreja da Ajuda e sai do trabalho antes de escurecer. Mesmo durante o dia e com outras pessoas no ponto de ônibus, ela não se sente segura. “A insegurança aqui é demais, ninguém se sente bem andando por aqui. Eu mesma não fico quando escurece”, afirmou enquanto carregava a mochila na frente do corpo, com medo de possíveis assaltos. 

Portas fechadas

O Ato de Desagravo, que estava marcado para essa sexta-feira (19), foi cancelado por causa da nova invasão e a igreja não tem nada para reabrir. A missa especial precisa ser celebrada pelo bispo para que atividades religiosas voltem a ocorrer. O Desagravo representa a oficialização do retorno da santidade à igreja e funciona como punição. 

O aviso colado em uma das portas indica que a igreja está fechada por tempo indeterminado 

(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

“O Ato de Desagravo é uma forma de punição porque todos são responsáveis pelo acontecimento. Não que sejamos culpados, mas devemos sentir a gravidade do ocorrido, é uma forma de mostrar os efeitos nocivos do que aconteceu”, explicou o padre João Batista Deferrari ao CORREIO, na segunda-feira. As celebrações que antecedem o dia de Santa Rita, que aconteceriam nesta semana, também foram canceladas. 

Igreja faz vaquinha depois de roubo

A Igreja de Nossa Senhora da Ajuda já foi uma das mais importantes do país quando o Brasil ainda era uma colônia portuguesa. Construída pelos jesuítas, ela abriga altares do século XVII e o púlpito original usado pelo padre Antônio Vieira. Após os furtos seguidos, a irmandade responsável pelo templo criou uma campanha de doação. 

O objetivo é que o dinheiro arrecadado seja utilizado para suprir os itens levados e ajudar no pagamento da segurança privada. A vigilância eletrônica que foi contratada custará cerca de R$ 400 mensais. É possível fazer as doações via pix, através do CNPJ 00.127.806/0001-45, no nome da Venerável Irmandade S. B. P. V. Cruz. 

A igreja foi a primeira construída dentro dos muros de Salvador. Feita para servir os jesuítas, funcionou como catedral entre 1552 e 1553, a partir da chegada de Dom Pedro Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do país. Na época, ela foi provisioriamente consagrada como Sé Primacial do Brasil, ficando conhecida como Sé de Palha. 

Em 1912, a igreja foi um dos marcos arquitetônicos de Salvador destruídos no processo de urbanização do então governador J.J. Seabra, que “abriu” a Avenida Sete de Setembro. Dois anos depois, o templo foi reconstruído no local onde antes ficavam os fundos da antiga igreja. Reinaugurado em 1923, mantém imagens e objetos da igreja original.

*Com orientação de Monique Lôbo.

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